Cigarra
Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.
Guilherme de Almeida. Melhores poemas de Guilherme de Almeida.
Seleção de Carlos Vogt, 2ª ed. São Paulo, Global, 2001.
Nesse texto, o poeta criou um interessante efeito acústico para descrever o choque de uma cigarra com o vidro de uma janela.
No primeiro verso, diamante - uma referência às asas transparentes e brilhantes da cigarra - e vidraça se contrapõem, sugerindo o momento exato em que a cigarra bate no vidro. Nos outros dois versos, os sons representados pelo r e pelo s, presentes nas palavras arisca, áspera, asa, risca, ar, brilha e passa e também a rima entre arisca e risca criam a impressão de que estamos ouvindo a fricção, isto é, o raspar das asas da cigarra no vidro .
Como você percebe, é um acontecimento instantâneo, uma cena rapidíssima, que a sensibilidade do poeta capta do cotidiano e transforma em poesia (haicai) para o prazer de nossa imaginação e de nossos ouvidos .
Texto retirado do livro Novas Palavras, página 187.
Ps: Esse é o poema mais lindo e rico em detalhes que já li em toda minha vida.
Ps1: Me deu arrepios *-*
Boa Tarde, Pam .